Atenção: Esse texto possui spoilers, ou seja, cita acontecimentos e fatos que podem estragar a graça do filme. O que é bem estranho, já que a própria sinopse do filme já diz o que vai acontecer E a história real pode ser lida em vários lugares diferentes. De qualquer forma, aviso dado…
Dia desses, dando uma olhada nos filmes que seriam lançados durante as féris de verão, acabei me deparando com a sinopse de “Sempre ao seu lado“, filme com Richard Gere que mostra a história de lealdade entre um cão e seu dono, lealdade que transcende até a morte.Não demorou muito, e acabei puxando nos arquivos da memória uma história muito parecida com a de “Sempre ao seu lado”: A história do cão Hachiko, famosa no Japão e no mundo todo. Uma busca rápida nas Wikipedias e IMDbs da vida, e minhas suspeitas se confirmaram: “Sempre ao seu lado” é uma refilmagem de “Hachikô monogatari”, um filme japonês de 1987, que conta a emocionante história de Hidesaburo Ueno e seu cão, Hachiko.
Mas o que faz essa história ser tão bela, a ponto de ter virado uma refilmagem na mão dos americanos? O título de um artigo publicado no jornal Asahi Shinbum de 4 de Outubro dá a resposta “Velho e fiel cão espera pela volta do dono por dez anos”.
Voltando um pouco para entender melhor: Hachiko nasceu em novembro de 1923, e logo foi enviado para a casa de Hidesaburo em Shibuya, que sempre sonhou em ter um cão da raca Akita. Aos poucos, a amizade e o amor entre o cão e o dono foram crescendo, a ponto de Hachi sempre acompanhar Hidesaburo (que era professor do Departamento Agrícola da Universidade de Tóquio) até a estação de trem. O que é interessante na história é que Hachi tinha uma espécie de ‘relógio interno’, e era capaz de ir sozinho até a estação de trem por volta das 15h para esperar o dono, voltando os dois para casa juntos. Isso, fizesse chuva, sol ou neve.
Infelizmente, em maio de 1925 Hidesaburo veio a falecer enquanto estava na faculdade, e jamais retornou para a estação de trem.
(Nesse momento, o filme de 1987 tem um dos momentos mais comoventes, quando Hachi entra na casa durante o velório do dono e começa a uivar, e logo depois, quando acompanha o carro que levava o corpo).
A partir daí a história ‘oficial’ e o filme original diferem um pouco. A história diz que parentes e amigos dos Ueno passaram a cuidar de Hachi. Já o filme mostra que o cão acabou se transformando em uma espécie de ‘estorvo’, uma triste lembrança para toda a família.
De qualquer forma, onde quer que estivesse, Hachi sempre dava um jeito de fugir e aparecer na casa antiga dos Ueno, e na estação de trem pela manhã e no final da tarde, na esperança de reencontrar seu dono. Sua figura constante tornou-se famosa no local, onde vendedores locais e antigos amigos de Hidesaburo levavam comida e água para Hachi. Era o máximo que eles podiam fazer pelo cão que sempre esperava pelo dono que nunca voltaria.
E isso durou por longos 10 anos. Em 1932 a história de Hachiko ganhou as páginas dos jornais japoneses, e a história do cão da raca Akita que era leal ao dono até após a morte do mesmo fez até mesmo com que a raça de cães (que estava entrando em extinção, com pouco menos de 30 animais dessa raça vivos) virassse uma febre no Japão, como exemplo de cão leal e amistoso. Em 1934 Hachiko ganhou uma estátua de bronze (que foi destruída pelos japoneses na Segunda Guerra), e em 1948 ganhou uma nova estátua, que permanece até hoje na estação de Shibuya.
Em 1935, Hachiko finalmente morreu, próximo à estação de trem, ainda esperando pelo seu dono. Aqui, o filme original toma uma grande liberdade poética, e mostra Hachiko e seu dono finalmente se reencontrando. Na vida real, todo dia 8 de Abril é realizada uma cerimônia solene na estação de trem, em homenagem à história do cão leal.
O filme original não é fácil de ser encontrado para venda, mas procurando no Google é possível achar versões para download, assim como as legendas. Vendo o trailer de “Sempre ao seu lado” é possível perceber que, apesar de várias adaptações e alterações na história original, o cerne da relação entre o dono e seu cão estão lá. Ainda não vi o filme, mas o que espero é que ele faça juz à Hachiko. Essa história pode até não ter tido um final feliz, mas é uma das mais belas histórias reais conhecidas.
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